quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Entre o silêncio e a palavra

Entre o silêncio e a palavra, me descubro. Hoje um pouco mais que ontem.
Em um ponto qualquer entre a coragem e a confiança do falar, a coragem e a confiança do escutar. Um momento em que a comunicação acontece na fala e na escuta, no verbo e no silêncio.
Pois sim, entrei muda e me descobri desperta, expressa.
Verborrágica, descubro o silêncio da escuta. Escuta de mim, dos outros.
Num novo momento entre a introspecção e a extroversão, entre o silêncio e a palavra, me busco.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Alargar a maneira de respirar...

é isso:
a cada dia, descobrir mais coisas sobre mim e sobre o mundo.

Descubro que tenho sorte. Que o universo gosta muito de conspirar a meu favor... talvez porque eu acredite nele! =]

Hoje, descobri também que sou transgressora por natureza. Em busca da autonomia, desde aproximadamente os 12 anos... rsss..
Autonomia, essa de você querer sempre refletir e discutir sobre os quadrados, antes de decidir se quer ser quadriculada. Querer, ou não querer, mas de consciência livre, com as duas pernas, sentimento e pensamento.

Feliz, por me ver assim.. alargando a maneira de respirar. Ahhhh...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ser sujeito

"O sujeito é um ser criativo. Para definir criatividade, o melhor é citar WINNICOTT: "A pulsão criativa pode ser vista em si mesma; bem entendido, ela é indispensável ao artista que deve fazer obra de arte, mas ela está igualmente presente em cada um de nós - bebê, criança, adolescente, adulto ou velho - que pousa um olhar surpreso em tudo o que vê; ela está presente em quem faz, voluntariamente, qualquer coisa - seja uma lambuzada com seus excrementos, seja um choro intencionalmente prolongado para saborear sua musicalidade. Essa pulsão criativa aparece tanto na vida cotidiana da criança retardada, que sente prazer em respirar, quanto na inspiração do arquiteto que, de repente, sabe o que quer construir e pensa então nos materiais que poderá utilizar, a fim de que sua pulsão criativa tome forma e figura, e que o mundo possa testemunhá-la." A referência a WINNICOTT significa que não me interesso particularmente pela vontade que os grandes homens têm de transformar todas as variáveis do mundo (uma tal preocupação é a de um espírito "elitista") e que levo a sério, em compensação, a vontade de cada um de fazer mudar as coisas (pequenas e grandes) e o desejo de criar, aqui e agora, uma novidade irredutível. Os artistas não se enganaram a esse respeito. HUNDERTWASSER declara a seus alunos: "Se vieram para aprender, é ainda pior, porque vão aprender coisas que não lhes são próprias, que não correspondem a vocês e estragarão suas vidas. A única maneira de se encontrarem enquanto artistas é através de sua própria ação criadora e isso pode ser feito somente em suas casas, não na escola!" Paul KLEE escreve: "O que quero ensinar a meus alunos não é a forma fechada, imobilizada; é a formação, a gestação, o nascimento, o primeiro movimento indistinto da matéria, antes que ela se fixe em natureza morta... Quanto mais longe mergulha o olhar do artista, mais seu horizonte se alarga do presente ao passado. E mais se imprime, em lugar de uma imagem da natureza, aquela única que conta - a criação enquanto gênese." Marcel DESCHAMP exclama: "Alarguei a maneira de respirar" e o poeta Victor SEGALEN, em seus Conselhos a um viajante, assim se expressa: "Evita escolher um lugar de asilo... chegarás, meu amigo, não ao charco das alegrias imortais, mas aos remansos cheios de embriaguez do grande rio diversidade."
O sujeito é, portanto, um ser capaz, ao mesmo tempo sapiens, demens (objeto da hybris), ludens e viator, homem portanto de sabedoria e loucura, do jogo e da vagabundagem, respirando a plenos pulmões um ar salubre, dando "um sentido mais puro às palavras da tribo" (MALLARMÉ), interessando-se mais pela germinação das coisas do que pelos resultados tangíveis, inebriado pela diversidade da vida e capaz de percebê-la; portanto, homem que sabe desposar suas contradições e fazer de seus conflitos, de seus medos, de suas metamorfoses a própria condição de sua vida, sem dominar o caminho que toma nem as consequencias exatas de seus atos; homem apto a recolocar em jogo sua vida e a correr riscos."

(ENRIQUEZ, Eugène. O papel do sujeito humano da dinâmica social. In: LÉVY, André et al. Psicossociologia Análise social e intervenção. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994. p.32-33)

domingo, 30 de maio de 2010

Qual história você quer contar?

São tantas histórias, são milhões de histórias. Perdidas entre tantas histórias, pessoas - seres humanos tão frágeis. Sim, o ser humano de repente me parece tão frágil... sujeito ao mundo, a tantas interrupções, perdas, desejos, sonhos. Frágil, como uma pequena flor no jardim.
O ser humano devia pensar assim sobre o outro - talvez tratasse o outro com mais cuidado, com mais carinho, assim como também merece ser tratado.
Talvez seja difícil enxergar uma história com essa sensibilidade - talvez porque essa história não é contada. Todo ser humano é tão frágil, mas ainda assim é sujeito. Sujeito que age, que transforma, que se posiciona. Que tem o mundo dentro de si... Dentro de si, um mundo inteiro.

Foi isso tudo que senti ao assistir a peça "Qual história você quer contar?", texto e atuação de Guilherme Toledo. Foi tudo isso e mais um pouco... foi me sentir tão frágil, como o personagem, e ainda assim tão rica... um mundo inteiro de histórias dentro de mim.

domingo, 16 de maio de 2010

Se...

Se a gente não tivesse feito tanta coisa,
Se não tivesse dito tanta coisa,
Se não tivesse inventado tanto
Podia ter vivido um amor Grand' Hotel.
Se a gente não dissesse tudo tão depressa,
Se não fizesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido um grande amor.
Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom Dia"...
Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Se a gente não dissesse tudo tão depressa,
Se não fizesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido um grande amor.
Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom Dia"...
Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Só pra se viver.
Ficar só
Só pra se viver...
Ficar só
Só pra se viver.

Sentimental

O quanto eu te falei?
Que isso vai mudar
Motivo eu nunca dei
Você me avisar, me ensinar
Falar do que foi pra você
Não vai me livrar de viver
Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim se pôde evitar
De tanto eu te falar
Você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão pra se perder
No abismo que é pensar e sentir
Ela é mais sentimental que eu
Então fica bem
Se eu sofro um pouco mais
"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te
Ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir.
"Tive razão
Posso falar
Não foi legal, não pegou bem
Que vontade de chorar, dói
Em pensar que [ele] não vem, só dói
Mas pra mim tá tranquilo, eu vou zoar
O clima é de partida,
Vou dar sequência na minha vida
E de bobeira é que eu não estou,
E você sabe como é que é, eu vou
Mas poderei voltar quando você quiser!"

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Só os idiotas são felizes"

"Idiotice é vital para a felicidade.
Deixe a pungência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota. (...)
Teste a teoria. Uma semaninha, pra começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que são: passageiras.
A briga, a dívida, a dor, a raiva, tudinho vai passar, então pra que tanta gravidade? Já fez tudo o que podia para resolver o problema?!
Parou, chorou, pediu arrego?!!
Ótimo, hora da idiotice: entre na Internet, jogue pebolim, coma um churrasco grego.
Eu fico chateada por não ser tão idiota quanto gostaria; tenho uma mania horrível de,
sem querer, recair na seriedade.
Então o mundo fica cinza e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna.
Nessas horas não preciso de cenhos franzidos de preocupação.
Nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice !!!!
Como sair pra jogar paintball - ou, melhor ainda, me olhar fixamente no espelho até notar como fico feia com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo.
Como fico ridícula quando esqueço que tudo passa. "

Ailin Aleixo - trecho do livro "Só os idiotas são felizes"

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tem dias que a gente acorda querendo mais.
Hoje eu acordei querendo ser mais.
Querendo ser boa, realmente boa em alguma coisa.
Papo de adolescente que não sabe bem o que quer? Não sei. Já quis muitas coisas, continuo querendo outras. Mas hoje eu queria ser reconhecidamente talentosa em qualquer coisa que fosse. Nem que esse reconhecimento fosse só meu. (Talvez, que fosse particularmente meu.)
Mas queria que esse talento tivesse saída, tivesse produção. Por exemplo, eu sou boa nos estudos. Sempre fui, ainda sou. Mas estudo é uma coisa meio “acadêmica demais.” Meio egoísta, meio elitista, meio “só blábláblá”, sabe?
Já fui boa em passar em concursos públicos (hoje, acho que enferrujei). Já foi algo de que me orgulhei, que fui exemplo. Mas.. hmmm... foi algo meio empurrado pra mim. Não foi escolha minha, consciente, verdadeira.
Hoje, queria um talento que fosse meu, de mim pra mim mesma, pro meu coração.
Queria ser boa fotógrafa, boa cantora, boa psicóloga, boa escritora.
Boa não, que boa tem aquele cheiro de “mais ou menos”, “dá pro gasto”. Queria ser ótima. Já cansei de trabalhar mais ou menos, produzir mais ou menos, investir mais ou menos.
Pra eu ser boa, tenho que investir tudo. Tenho que investir a alma. Esquecer os riscos, os sacrifícios, as perdas. Não dá pra ficar repartindo alma, como quem reparte pedaço de bolo. Não dá pra viver mais ou menos. To cansada de viver como expectadora.
Só eu sei como isso é difícil pra mim, treinada pra ser equilibrada, pra ter bom senso, pra ser modesta, quase invisível.
Mais difícil, ainda, escolher onde investir a alma. Querer, com a alma, com a calma e a coragem.
“Sonho parece verdade... quando a gente esquece de acordar..”
Triste é não se deixar sonhar... ou realizar.