domingo, 2 de outubro de 2011

Histórias: sobre nós

"A vida não é a que a gente viveu, mas a que a gente recorda. E como recorda, para contá-la." (Gabriel García Marquez)

E me é difícil lembrar histórias.. não porque não as tenha, mas talvez porque não as ressalto, e talvez, também, porque não me ressalto?
Vontade de ir lembrando histórias, ressaltá-las, ressaltar-me, fortalecer esse eu que hoje vive e que viveu, não esquecido, não apenas jogado desamparado ou caído de páraquedas, mas construído de pequenas e tantas histórias. O que eu sou, hoje, é construído a partir do que recordo de mim mesma...

Começo relendo algumas poucas histórias que escrevi nesse blog, e curto um tanto... a história, a mim mesma.

Continuo querendo contar algumas histórias.

A primeira que lembrei, hoje, foi a de uma rosa. História que já contei em um outro blog, que perdi... história doce, que me permito recordar, e que passa a ter sido conforme eu me recordo...

Cheguei no trabalho e notei olhares diferentes e interessados na minha direção... sorrisinhos de canto de boca. Uma colega soltou: vai lá, Lorena, alguém deixou uma coisa pra você, na sua mesa...
Na minha mesa, uma rosa. Só uma rosa. Sem laço, sem enfeite, delicada e singela como lhe é própria. Em um bilhetinho, um nome.
- Ele veio aí, você não estava, pediu pra deixar a rosa na sua mesa e se foi, agorinha mesmo...
Uma rosa e um nome, apenas. Conseguiu ser simples, delicado, atencioso e romântico, de uma vez só. Bastou pra deixar a tarde um pouco mais leve e perfumada, para mim e para todas as mulheres ao redor...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma história.

- Papai Noeeel!!!
Abriu a porta uma menina com seus 5 anos, com um brilho intenso nos olhos arregalados. Ajeitei a barba, cocei a garganta.
- Ho,ho,ho! Feliz Natal!
Por detrás da menina, percebi a chegada de sua mãe. Olhou para mim, a princípio surpresa.
- Papai No... Quem te mandou aqui? Foi o Norberto, não foi? Olha, você diz pr´aquele cafajeste do Norberto que se ele não pagar a pensão, não vai mandar presente nenhum para a filha!
Bateu a porta a 10 cm do meu nariz. E agora, como explicar toda a situação? Não, minha senhora, não foi o Norberto que me chamou, eu estava no vizinho, fui dar a volta na casa, o cachorro quis me atacar, eu pulei o muro... e agora estou aqui, preso no quintal da sua residência. Como explicar tudo isso?
Devagarzinho, a porta foi se abrindo novamente, descortinando dois olhos grandes e brilhantes no rosto infnatil.
- Fecha essa porta e entra, Maria Clara! Agora! - um grito rápido e certeiro, de dentro da casa.
E a porta se fechou. (*)

Aqui dentro de mim moram essa menina e sua mãe, que andou fechando portas demais...
Toma, menina, que as chaves agora são tuas.

(*) Adaptação livre de história contada no workshop ministrado por Marco Gonçalves, em Curitiba/PR, set/2011.