quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pra fazer xixi

- Minha barriga tá doendo...
- Você não quer fazer xixi antes de dormir?
- não, não to com vontade!
- Hmmm... você sabe que tem uma bexiga aí dentro da sua barriga?
- Hã??
- Bexiga... é igual aqueles balões de aniversário, sabe? Só que, em vez de encher de ar, ela enche de xixi.. guarda o xixi aí na sua barriga..
- É?
-É! Por isso que, quando enche, a barriga dói! É porque tá precisando esvaziar!
- Hmmm... !!
-...
-... e se estourar??
- Uai.. se estourar, faz dodói...
- !!!
-... e aí, vamos lá fazer xixi?
- Ahn... Vamo!! Acho que tá começando a me dar uma vontadezinha pequenininha...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pequenos (ou grandes) momentos de amor

- Casa comigo?
Me falou isso assim, no meio de uma conversa-chamego, sem nenhuma preparação psicológica prévia.
Eu ri: - Caso!
Mas completei: - Cê tá falando sério?...
- Uai, cê acha que eu tô brincando?
Perguntou meio magoado. Eu fiquei sem resposta.
Se já não estivesse encostada, caía pra trás. Estado de choque. Casar... Casar! Putaqueopariu.
Tá bom, eu sempre tive planos de casar. Mas ah, até então, eram só planos... Era sonho. Agora, ele queria mesmo casar comigo! Casar! Sair da casa de mamãe, morar com ele, constituir família, pra sempre. Pra sempre, entendeu? Não é uma coisa que eu pudesse mudar de idéia amanhã ou mês que vem.
Depois de alguns minutos calados, eu com toda essa barafúrdia de pensamentos rodando na cabeça, ele emendou, parecendo querer me acalmar e ao mesmo tempo mostrar que era sério:
- Claro que num é pra agora, né...
Ah, tá. Num é pra agora. Mas putz! A gente já tinha brincado sobre isso, sobre nosa casa, nossos filhos, daqui uns 3, 4 anos, quem sabe. Casar em setembro, primavera. Putz, mas agora era sério!
- Tipo, você fala, compromisso mesmo, como se a gente estivesse noivando?
Ele balançou a cabeça, dizendo que era. Meu pé atrás, meu medo e meu tipo responsável vieram à tona.
-Ah, meu bem, acho que isso tem que ser pensado com calma, a gente nem se conhece direito... Casamento pra mim é coisa séria, é pra sempre...
-Pra mim também! Eu não estava brincando quando disse que você é a mulher da minha vida! ...

Muitas conversas, muitos pensamentos e três semanas depois, eu perguntei se ele casava comigo. E ele aceitou. Mas pra fazer a coisa direito, disse que a frase era dele, e repetiu:
-Casa comigo?
-Caso!
(É que só então eu digeri a idéia!)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação."

(Yalom, "A Cura de Schopenhaues", p. 76)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Romance

Era um príncipe. De feições lindas, cabelos negros, camisa branca com mangas longas, dobradas no cotovelo. Charmoso... Convicto nas escolhas, firme nas atitudes. Sereno, culto, sensível.

Era uma moça frágil, insegura. Vê o rapaz e apaixona-se perdidamente, à primeira vista. Ele não se abala; diz-lhe, mansamente, que é preciso se conhecerem; que é preciso deixar o amor acontecer...
Ela, a princípio aflita por conquistá-lo, aos poucos se acalma e percebe que é preciso deixar-se conhecer, aos poucos... Que não é preciso esforço para agrada-lo, bajula-lo; que basta, sim, deixar-se ser. Reconhecer-se princesa.

Moram, os dois, dentro de mim. Sinto esse primeiro encontro, anúncio de um grande e eterno romance – aqui, dentro de mim...

sábado, 18 de julho de 2009

As mentiras que as mães contam

- Ôôô meu amor! Não chora! Deixa eu dar um beijinho que sara...

(Psicolografando: daí pra frente, ferrou. Toda vez que quiser um beijinho, a criança cisma de ficar doente...)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não, eu não quero estar em algum lugar perdido.
Não, eu não quero estar além.
Não, eu não quero não estar.

Nem ando nem quero andar devagar 'porque já tive pressa'.
Tenho e pra sempre quero ter pressa de viver.

Sim, "estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar".

Talvez, aos 28 anos, a gente se encontre.
Talvez não: a gente já está se encontrando.

Série "coisas que me irritam de verdade" - parte I

Dois baianos deitados na rede, naquela fala beeeem demorada...
- Ó meu rei... tu tem aí remédio pra picada de cobra??
- Vixe, tenho não... mas... pra que que tu quer, heim painho?
- Oxi... é que vem vindo ali uma cascavel...


Pra começar, deixo claro que adoro a Bahia e todos os baianos também. Acho uma gente alegre, dinâmica e trabalhadora. E eu sei, essa piada é velha.

Mas a piadinha serve, não pros baianos legítimos, mas pra muita gente que deita e espera a vida passar. Gente que conta a piada, ri dos baianos e continua deitado na rede.
E se vier a cascavel, e não tiver remédio pra picada de cobra, fazer o quê, não é mesmo? Melhor continuar deitado até ela chegar... Vai que ela resolve desviar no caminho ou tirar um cochilo também!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Nietzche

Assim Nietzsche, em Zaratrusta:

"É preciso ter o caos dentro de si para dar origem a uma estrela bailarina".

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoínho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante... Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O lance é "ter fé e ver coragem no amor..."

Quando em vez,
redescubro em mim essa alma doce de poeta,
esse jeito torto de me afastar do mundo.
Como se a poesia não lhe fizesse parte.
Quando em vez, me pergunto se é isso mesmo,
se eu que sinto demais,
se os outros é que sentem de menos,
e por que a realidade não pode ser como se sonhada,
pelo menos um pouco.
É assim, quando em vez,
que desubro em mim pedaços que não combinam,
que não cabem aqui,
que insistem em acreditar,
que insistem.
É assim, quando em vez,
que eu ainda acredito no sonhar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


E quando menos esperei, vi tamborilar os dedos e repetir versos de um ensinamento que sempre insisti, mas nunca consegui convencer de verdade... na batida da música:

" É pela paz que eu não quero seguir admitindo...
(...)
Pois paz sem voz.. não é paz, é medo"

Música é muito melhor que conselho ou até exemplo, às vezes. Viva o Rappa, rapaz.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A ponte

Nas duas extremidades de um abismo, dois seres estranhos se observam, ao longe.
Ambos parecem se interessar pelo pouco que podem ver.

- Ei, vamos construir uma ponte! – grita um deles, e ouve de volta: “Ei... vamos... uma ponte...”

Mesmo sem saber se o que escuta é mesmo uma resposta ou um eco da própria voz, acredita, e começa a construir.

Vê um vulto se movendo, ao longe, e acredita ainda mais fortemente que esse vulto também se move na mesma direção – e o movimento torna-se veloz, intenso, inabalável.

Vez ou outra, esse movimento de construção é mesmo recíproco – e os dois lados outrora separados pelo abismo se encontram no caminho, felizes por se verem juntos, no mesmo movimento de construção. Podem gostar do que agora observam de perto, e continuar a edificação, unidos. Percebem que a ponte requer sempre reformas e reconstruções, pois se abala com o tempo, com as chuvas, com pisadas mais fortes... Juntos, decidem estar sempre reconstruindo, em um trabalho que se torna leve e prazeiroso, porque é feito a quatro mãos. E a ponte se torna cada vez maior, mais bonita, mais forte.

Vez ou outra, no entanto, ocorre de um dos dois levantar a cabeça e duvidar se o outro está também interessado na construção, ou se constrói com a mesma vontade, com a mesma intensidade. Decepciona-se um pouco com o que vê... e vai, aos poucos, perdendo a vontade de construir. Percebe que essa ponte só pode ser construída a quatro mãos.

E, conforme pára de construir, o pedaço da ponte já construída começa a desabar. A vontade é o cimento. Se falta cimento, a ponte não pode mais ser construída. Toda a negação do movimento de construir passa a ser desconstrução.

O outro, lá do outro lado, pode nem se dar conta da ponte que vinha sendo construída em sua direção. Pode até, talvez, estar atarefado observando um outro estranho, do outro lado de um outro abismo.

Ou o outro pode, sim, visualizar a ponte, desde o início. Pode empenhar-se na construção... mas, vez ou outra, duvidar da parceria, achar que a ponte não está sendo construída do jeito certo, e acabar desconstruindo, em um movimento, tudo o que foi construído.

O outro pode, também, ver a movimentação em sua direção, e se sentir satisfeito que a outra pessoa esteja tão empenhada na tarefa. Sentir-se, então, liberado para cuidar de outras tarefas na sua vida. A ponte já está sendo construída pelo outro...
Um dia, ao observar a construção da ponte, pode perceber que o outro não está mais tão interessado... que o movimento é um pouco mais lento... ei! Talvez a ponte nem esteja mais sendo construída!! Talvez... ei! mas essa ponte não está menor do que deveria estar??

Talvez o outro visualize agora que a ponte precisava de quatro mãos... que deveria, sim, ter se empenhado um pouco mais na tarefa. Talvez queira construí-la, agora... mas não sabe mais como fazer. Consegue ver o outro se distanciando, vê-se inseguro, sozinho na tarefa. Sente-se abandonado. E não acredita mais que pode construir a ponte. Falta cimento.

Depois de um certo ponto em que a ponte é desfeita, os dois podem até se interessar novamente pela construção. Mas um não consegue mais visualizar o movimento do outro, e não consegue mais acreditar que o outro pode, ainda, querer construir a ponte, mesmo que de outra forma, mesmo que a passos inseguros e incertos...
E sem conseguir enxergar, nem acreditar, também não consegue mais construir. A ponte que ainda poderia ser reconstruída nunca chega a ser.

Um relacionamento é uma ponte, construída sobre um abismo.
Requer reformas e reconstruções, pois se abala com o tempo, como qualquer ponte. E pode se desconstruir facilmente em qualquer movimento de negação.

Um relacionamento é uma ponte sobre um abismo. Depende de uma engenharia primorosa desenhada a quatro mãos, muito desejo, cuidado permanente e fé inabalável.