quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Retorno de Saturno

Final de ano nada convencional.
Tudo parece estranho. Amigos faltam, questionamentos surgem, tudo parece tão distante do que eu sou.

(Hoje, especialmente, soa tão estranha a idéia de que a época de Natal é assim, e as pessoas se sentem assim ou assado... e mais estranha ainda a idéia de ter que se sentir como todo mundo).

Toda noite, sonhos estranhos, densos. Em um deles, eu me vejo reivindicando pela minha felicidade. “Eu tenho 27 anos, estudei, trabalhei, posso me manter até melhor que meus pais. Agora eu tenho direito de ser feliz!”
Como se, antes, não tivesse esse direito. Ou tivesse, mas não tivesse consciência disso. Não sei... Tudo meio obscuro.

Assisto um programa que nunca tinha visto antes, e me cai no colo essa história de “retorno de saturno”. Claro, tive que pesquisar na rede: http://portodoceu.terra.com.br/pratica/orbita-0102d.asp

Faz sentido. 6 meses, apenas, me separam dos 28 anos.
Um final de ciclo, uma necessidade de transformação, de consciência, de tomar as rédeas da minha vida. De assumir a responsabilidade pela minha felicidade.

No orkut, encontro pessoas passando pelas mesmas transformações, questionamentos, sentimentos. Uma necessidade de olhar pra frente, de se livrarem do saudosismo típico dos vinte e poucos anos. Por um lado, foi um alívio: Não sou a única.

Mas pode ser assim até os 30 anos. Ufa.
Até lá, que vinte e nove anjos me saúdem, e que eu tenha vinte e nove amigos outra vez.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Já me disseram uma vez que a gente tem muito a aprender com esses nossos amigos caninos.
Essa mãe de primeira viagem, aqui do meu lado, vive me ensinando alguma coisa. E eu, toda abobalhada com essa novidade, não consigo deixar de escrever sobre esses pequenos detalhes, quando os percebo.
Nos primeiros dias, não saía do lado do filhotinho. Hoje, 15 dias depois, ela dorme mais fora do que dentro da caixa... às vezes acho que ela anda até muito desnaturada. Quando alguém pega o filhote, ou quando outro cachorro se aproxima, ela vem feroz, defender a cria. Mas quando tudo está tranquilo, na maior parte do tempo, ela só observa, à distância. Ensinando que a gente cria filhos é pro mundo, e se forem cercados de proteção demais, não desenvolvem as próprias defesas...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Via láctea

Renato Russo era ídolo de toda a minha geração e, acho, também da geração um pouco mais velha que eu. Era obrigatório em rodinhas de violão, pra passar o tempo na sala de aula, nas caminhadas, nas excursões... Cantei tanto que traumatizei, enjoei, sei lá... e passei bons anos sem conseguir nem ouvir falar nele.
Até que, em pleno 2008, me apareceu um professor, da geração um pouco mais velha que eu, letrado, doutorado e tudo o mais, que misturava, no meio das aulas do cursinho preparatório, umas frases do antigo ídolo.
Ouvindo as letras, lembrei um pouco da minha adolescência... Renato entendia a gente como nenhum outro adulto entenderia. E colocava isso em suas letras.... meio mágico, até?

Hoje, acordei com uma música dele na cabeça, como não acordava há 15 anos, pelo menos.
Vai ver, de algum canto do universo, ele me soprou no ouvido que é assim mesmo, as emoções do adolescente continuam na nossa alma, só que cada vez mais presas, conforme o tempo passa. Assim como a alma da criança, dentro da nossa aprisionada. A gente quer esconder, esquecer, e ela grita por sair. Porque não deixar?
Hoje, quando a minha caminhada parece cansada e meio sem graça, só essa música segue traduzindo sentimentos que eu não sei explicar, tão iguais a tantos outros, tão único em sua intensidade.

"Eu nem sei porque me sinto assim/Vem de repente um anjo triste perto de mim/E essa febre que não passa/E meu sorriso sem graça/Não me dê atenção/Mas obrigado por pensar em mim"

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mãe e Vó de primeira viagem

Nasceu um filhotinho só, macho, branquinho como o pai. Um ratinho, praticamente... cabia na palma da mão, essa coisinha tão pequena, tão frágil, tão indefesa.
Eu, "avó" de primeira viagem, fiquei atarentada, não sabia se ia ou vinha, se ficava, se voltava. Observava o pequeno tentando mamar, a mãe não deixava. Mãe de primeira viagem também, ainda tão novinha, perdeu o colo e, de uma hora pra outra, tem que cuidar de uma coisinha pequena dessas...
Tentei ajudar, encaixar a boquinha pequena na fonte do único alimento. E a mamãe, como que pra me dizer que em família não se deve interferir, resolveu parar de comer. A carinha triste, entediada e ao mesmo tempo preocupada, lambendo desesperadamente o filhotinho que, embora deste tamanho, suga o restinho de leite com uma força impensável.

É... Essa coisa de ser mãe deve doer um bocado.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

É, eu sou uma pessoa difícil. E é difícil eu reconhecer. Reconhecer que sou difícil e reconhecer nos outros essa tentativa.
Mas hoje eu reconheço.
Ele nem queria, mas foi caminhar comigo, me levar até a academia, correr e depois me buscar. E eu vi nos olhos dele que ele fez porque eu pedi, porque pra mim era importante fazer qualquer coisa diferente do lado dele.
E me fez rir no meio do caminho (e foi tão bom!)
E fez mais: resolveu fazer um "lanche" especial pra nós dois, pra nossa noite de sexta. E interditou a cozinha, e eu estou cá esperando o prato "x". Pode ser o que for: já é a receita de uma sexta feira muito mais bonita e carinhosa.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Nalgum lugar perdido, cá estou. Alô, dá pra alguém me ver por aqui? Aqui, invisível. Escondida atrás de um nome, uma pose, uma cara. Alô, alguém por aqui? Apareça, pra eu também ver se consigo aparecer. Todo mundo tão preocupado em sair do seu buraco, e eu aqui esperando alguém me puxar. Alô, tem alguém na linha? Olha eu aqui, sem radar...

(postzinho escrito em 2004, sim, e tão sempre-atual. Impressionante como esses sentimentos permanecem.)

terça-feira, 25 de março de 2008

Retrato



"Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coraçãoque nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

Em que espelho ficou perdida a minha face?"

[Cecília Meireles. "Antologia Poética".]